muito esquisito

Um livro com poemas verbais e gráficos independentes, o que garante muita originalidade ao projeto leve e preciso. Misturando gravuras antigas de animais com largas pinceladas que formam corpos inusitados, batiza os poemas visuais com nomes muito estranhos. Intercalando as diferentes linguagens de verbo e de imagem, provoca uma leitura curiosa tanto das rimas quanto das composições surpreendentes. A estrutura da obra convoca o leitor a exercitar seu imaginário tanto num universo quanto no outro: prevalecem os jogos lúdicos das palavras e das figuras.

Muito Esquisito atende leitores diversos, especialmente,  3º , 4º, 5º e 6º ano do fundamental. 

Recebeu o prêmio Cátedra Unesco de Leitura 2018 e o prêmio da Associação Gaúcha de Escritores - Ages, na categoria infantil.


bicho-palavra

o bicho-palavra
surgiu de um grunhido
que teimou fazer sentido

se por acaso, se por engano
ou por obra do destino
isso ninguém sabe

o que se sabe
é que saiu por aí
dando nome às coisas
inventando línguas
criando léxicos
da África à Oceania
da Conchinchina ao México

quando acharam
que tinha dado nome a tudo
inventou o verbo

de prosa em prosa
de papo em papo
as coisas e seus nomes
foram ganhando
múltiplos significados

como se não bastasse isto
risco que era rabisco
acabou desenho
letra, sílaba, vocábulo
de repente passou a ser escrito
o que antes era falado

livros, papiros, documentos
dicionários, iluminuras
alfarrábios poeirentos

o bicho-palavra
não perde tempo

como o vento se reinventa a todo momento
virou matéria-prima
do pensamento

jabugarça


coisalguma


o coisalguma
diz nada com nada

na primavera
não virá

no verão
ninguém verá

no outono
nem em sonho

no inverno
vê-lo não dá

o coisalguma
não é, foi ou será

menos que nada
nada onde nada há 

olha-olha


esquisito

o bicho esquisito
não é isso nem aquilo
não tem cara de mosquito
nem asa de periquito

não tem forma de formiga
não tem jeito de girino
não tem saia de menina
não tem meia de menino

não tem cabeça de bagre
nem olho de jaguadarte
não tem pena de ave
nem tamanho de jubarte

o bicho esquisito
não tem pé, não tem pescoço
mora lá no fim do mundo
não é velho nem é moço

não rosna como cão
nem ruge como leão
não tem cauda de pavão
nem se zanga como zangão

não é belo como o cisne
nem esperto como o lince
não corre como guepardo
nem pula como o veado

é um o bicho muito esquisito
não faz teia não faz buraco
não faz zumbido de pernilongo
não é longo nem é chato

não nada em água parada
sua boca não cospe fogo
não se move como paca
nem como dragão de Komodo

não tem cara de fuinha
nem chifre de narval
não tem cauda de tainha
nem bico de pica-pau

não pica como aranha
não brinca como ariranha
não morde como piranha
não chora, não arranha

esse bicho esquisito
sabe bem o que lhe convém
quando sai pra ir na esquina
volta só no ano que vem

não é lendário como Ícaro
nem imaginário como Pégaso
não põe ovo como ovíparo
não é terrível como tétano

não é alto como a girafa
nem grande como o elefante
não é pequeno como a lacraia
não é diverso nem semelhante

o bicho esquisito tem um olhar
diferente de tudo que já vistes
se não fosse esse poema
quem saberia que ele existe?

umamão

alexandre@alexandrebrito.net.br
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora